As Perspectivas Básicas das diferentes dimensões da realidade: Segundo a teoria integral, há pelo menos quatro perspectivas irredutíveis (subjetivo, intersubjetivo, objetiva e interobjetivas) que deve ser observada quando se tenta entender completamente qualquer questão ou aspecto da realidade. Assim, os quadrantes expressam o simples reconhecimento de que tudo pode ser visualizado a partir de duas distinções fundamentais: 1) de dentro e de fora de uma perspectiva e 2) a partir de uma perspectiva singular e plural. Um exemplo rápido pode ajudar a ilustrar isso: imagine-se tentando entender os componentes de uma reunião bem sucedida no trabalho. Você certamente desejaria reconhecer os insights psicológicos e as crenças culturais (o interior dos indivíduos e grupos), bem como observar os comportamentos e a dinâmica organizacional (o exterior dos indivíduos e grupos) para poder apreciar plenamente o que está envolvido na realização dessa importante reunião.
Esses quatro quadrantes também representam dimensões da realidade. Essas dimensões são aspectos reais do mundo que estão sempre presentes em cada momento. Por exemplo, todos os indivíduos (incluindo animais) tem alguma forma de experiência subjetiva e de intencionalidade, ou interiores, assim como vários comportamentos observáveis e componentes fisiológicos, ou exteriores. Além disso, os indivíduos nunca estão apenas sozinhos, mas são membros de grupos ou coletividades. O interior do coletivo é geralmente conhecido como realidades culturais intersubjetivas e os seus exteriores são conhecidos como sistemas ecológicos e sociais, que são caracterizados pelas dinâmicas interobjetivas. Estas quatro dimensões são representadas por quatro pronomes básicos: “Eu”, “Nós”, “Isto”, e “Istos”. Cada pronome representa um dos domínios no quadrante modelo: “Eu” representa o canto superior esquerdo (SE), “Nós” representa o Inferior Esquerdo (IE), “Isto” representa a Superior direito (SD) e “Istos” representa o Inferior Direito (ID).
Como ambos os quadrantes do Lado Direito (SD e ID) são caracterizados pela objetividade, os quatro quadrantes também são referidos como as três esferas de valor, a subjetividade (SE), a intersubjetividade (IE) e objetividade (SD e ID). Estes três domínios da realidade são perceptíveis em todos os principais idiomas através de pronomes que representam a primeira, a segunda e a terceira pessoa, e essas perspectivas são referidas por Wilber como “As três grandes:” Eu, Nós, e Ele/s. Estas três esferas também podem ser caracterizadas como a estética, a moral, e a ciência ou ainda a consciência, a cultura e a natureza.
A teoria integral insiste que você não consegue entender uma dessas realidades (qualquer um dos quadrantes) através da lente de qualquer um dos outros. Por exemplo, a visualização subjetiva de realidades psicológicas, principalmente através de uma lente objetiva empírica, distorce muito do que é valioso sobre a dinâmica psicológica.
De fato, a irredutibilidade destas três esferas tem sido reconhecida ao longo da história da filosofia ocidental, de Platão o Verdadeiro, O Bom e o Belo, passando por Immanuel Kant com as famosas três críticas da Razão Pura, Bom Senso e Razão Prática, até a Jürgen Habermas com as reivindicações válidas da Verdade, Retidão e Honestidade. Wilber é um firme defensor da impossibilidade de se reduzir uma dessas esferas às outras. Em particular, ele adverte contra o que ele chama de “planura”: a tentativa de reduzir o interior ao seu exterior correlatos (ou seja, o colapso subjetivo e intersubjetivo da realidade em seus aspectos objetivos). Isto é visto frequentemente em sistemas de abordagens para o mundo natural, que representam a consciência por meio de diagramas de realimentação (feedback loops) e nesse processo é deixado de fora a textura e a experiência sentida pela primeira e segunda pessoa.
Uma das razões da teoria integral ser tão esclarecedora e útil é que abarca a complexidade da realidade, de uma maneira que poucas outras formas ou modelos o fazem. Em contraste com abordagens que, explicitamente ou inadvertidamente reduzem um quadrante ao outro, a teoria integral entende cada quadrante como surgindo simultaneamente. A fim de ilustrar a simultaneidade de todos os quadrantes vou dar um exemplo simples tendo a Figura 1 em mente. Vamos dizer que eu decida que preciso comprar algumas flores para o jardim, então tenho o pensamento: “Eu preciso ir a loja de plantas.” A teoria integral demonstra que este pensamento e sua ação associada (por exemplo, dirigir o carro até loja e comprar mudas de rosas) tem pelo menos quatro dimensões, nenhuma das quais pode ser separada porque elas co-emergem (ou tetra-emergem) e comunicam-se mutuamente. Primeiro, há o pensamento individual e como eu experiencio isso (por exemplo, mentalmente calculando o tempo de viagem, a experiência de alegria ao fazer as compras, ou a preocupação financeira sobre como vou pagar as minhas compras).
Essas experiências são comunicadas por estruturas psicológicas e sensações físicas associadas ao quadrante SE. Ao mesmo tempo, há a combinação única de atividade neuronal, a química do cérebro e estados corporais que acompanham este pensamento, bem como qualquer comportamento que ocorre (por exemplo, colocar um casaco que estava no carro). Esses comportamentos estão associados a várias atividades do nosso cérebro e da atividade fisiológica do corpo, que estão associados com o quadrante SD. Da mesma forma, há os sistemas ecológicos, econômicos, políticos e sociais que abastecem a loja de plantas com itens para vender, determinando o preço das flores, e assim por diante. Estes sistemas são interligados através de mercados globais, às leis nacionais e à própria ecologia, que estão associadas ao ID. Há também um contexto cultural que determina se eu associo “Loja de Plantas”, com um mercado ao ar livre, um grande centro comercial, ou uma pequena barraca em um beco, bem como para determinar os vários significados e interações culturalmente apropriadas que ocorrem entre as pessoas na loja de plantas. Estes aspectos culturais estão associados a visões de mundo no quadrante IE.
Assim, para ter uma compreensão completa da ocorrência do pensamento, “eu vou para a loja de plantas” não se pode explicá-lo totalmente apenas através dos termos de qualquer psicologia (SE), ou neurobiologia e fisiologia (SD), ou a através da dinâmica social e econômica (ID), ou da significação cultural (IE). Para uma visão mais completa, como veremos, deve-se levar em consideração todos estes domínios (e os seus respectivos níveis de complexidade). Por que isso é útil? Bem, se nós tentarmos resumir esta situação simples, deixando de fora uma ou mais perspectivas, um aspecto fundamental do todo integral seria perdido e nossa capacidade de compreendê-lo e enfrentá-lo seria comprometida. Assim, aqueles que utilizam a teoria integral costumam usar os quadrantes como seu primeiro movimento para entrar em contato com uma situação ou problema e trazer múltiplas perspectivas para suportar seus questionamentos e o que está disponível para ser explorado.
por Sean Esbjörn-Hargens
www.integrallife.com
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