Compreendendo as “Guerras Culturais”

Níveis, ondas ou estágios de estrutura de desenvolvimento se aplicam a todas as atividades e temas humanos. Pegue as famosas “Guerras Culturais”, por exemplo, que é um assunto cuidadosamente superaquecido sobre qual sistema de valores é o único sistema verdadeiro. Em geral, há um consenso de que há três concorrentes principais nessas Guerras Culturais: os crentes religiosos tradicionais, muitas vezes fundamentalistas, mítico-literais, defensores da verdade de Deus como literalmente revelada na Bíblia; os crentes modernos, racionais e científicos, defensores do progresso e das realizações; e os pós-modernos, multiculturais, crentes sensíveis, defensores de atitudes não marginalizantes e da sustentabilidade ecológica. Esses três grupos de valores estão presentes não apenas nos Estados Unidos, mas em todo o mundo e, em alguns casos, estão por trás do aparecimento de uma guerra real (embora isso também frequentemente envolva níveis ainda mais baixos, com impulsos de poder Mágico-Míticos).

O que poucas pessoas parecem perceber é que esses três grupos de valores são quase exatamente três dos principais estágios de estruturas do crescimento e desenvolvimento humano anteriormente descritos: os fundamentalistas religiosos tradicionais estão no Mítico-literal, os cientistas modernos estão no Racional e os multiculturalistas pós-modernos estão no Pluralista. Os valores promovidos por cada um desses grupos podem ser quase diretamente vistos nas estruturas desses três principais estágios. Todos esses estágios – Mítico, Racional e Pluralista – são chamados de estágios de “1ª camada”, porque todos os estágios de 1ª camada acreditam que suas verdades e valores são as únicas verdades e valores reais. Eles pensam que todos os outros estágios (exceto o seu) são infantis, equivocados, malucos ou simplesmente errados – daí as Guerras Culturais. E se esses três grupos não estão em realmente em guerra em algum lugar do planeta, eles certamente podem ser encontrados em programas de TV e rádio e na maioria das seções editoriais de todos os grandes jornais – sem mencionar os muitos livros sobre suas visões – argumentando ferozmente sobre o motivo do porque estão certos e os outros estão totalmente errados.

Os cientistas racionais – e os “novos ateus” – acreditam que os pluralistas pós-modernos “sensíveis e atenciosos” são malucos e “woo-woo” [gíria depreciativa para uma pessoa que aceita prontamente fenômenos sobrenaturais, paranormais, ocultos ou pseudocientíficos, ou crenças e explicações baseadas na emoção], e que os fundamentalistas religiosos tradicionais são arcaicos, infantis e perigosos. Os Pluralistas pós-modernos pensam que tanto os cientistas Racionais quanto os fundamentalistas tradicionais estão presos em modos de conhecimento “socialmente construídos”, os quais são culturalmente relativos e que não têm mais valor vinculativo do que a poesia ou os estilos de moda; esse “conhecimento” dá ao pluralista um enorme senso de superioridade (embora em sua visão de mundo, nada deva ser superior). E os fundamentalistas tradicionais pensam que tanto os cientistas Racionais modernos quanto os Pluralistas pós-modernos são todos pagãos incrédulos, destinados a um inferno eterno, então, afinal, quem se importa com o que eles pensam?

O estudo simples de praticamente qualquer importante modelo de desenvolvimento mostrará que a origem e a relação de todos esses três grupos são três dos estágios de crescimento e desenvolvimento geral dos seres humanos, todos eles apropriados para um determinado período de crescimento, mas inadequados, por si só, em fases mais elevadas. Mas como os três últimos níveis da evolução humana ainda emergem [de forma significativa] (paralelamente ao início muito recente do nível Integral) esses três estágios ainda estão lutando pela supremacia – eles estão lutando pelo controle da educação, política, valores cívicos, “valores da América”, religião e espiritualidade, práticas parentais, os valores da vida e assim por diante.

É por isso que o surgimento de valores integrais abrangentes é um desenvolvimento tão revolucionário, radicalmente novo em toda a história. Os estágios integrais dão um passo adiante e perguntam “Quais verdades parciais cada uma dessas verdades de primeira camada tem para contribuir para uma visão mais completa da humanidade?” para assim trabalhar na criação de estruturas de integração, como o modelo AQAL, desta forma reunindo todos esses fragmentos que juntos refletem com mais precisão o Todo da realidade e todas as suas várias interpretações. O resultado é frequentemente chamado de “abordagem de 2ª camada”, e é de fato uma emergência evolucionária radicalmente nova que promete transmutar cada uma dessas áreas mencionadas, além de muitas, muitas outras. Esse movimento está por trás da enorme empolgação e forte otimismo sobre uma possível “transformação global” em direção a uma visão de mundo verdadeiramente unificada; mas, devemos lembrar que não há apenas uma transformação – do “velho paradigma” para o “novo paradigma” – mas existem, e têm existido, pelo menos seis a oito grandes transformações na história, e apenas a mais recente, o surgimento do nível Integral, que neste momento envolve apenas cerca de 5 por cento da população, é vista pelos “transformacionistas globais” como a grande virada de jogo. E realmente ela começou, e é de fato uma virada de jogo. Usando mapas mais sofisticados, tal como o Integral, obtemos uma imagem melhor dos muitos efetivos passos que estão envolvidos nesse processo e o que podemos fazer para acelerar esta revolucionária transformação.

do livro ‘A Religião do Amanhã’ – Ken Wilber