O significado de 2ª pessoa

Tradução e adaptação: Paulo C S Passini | Revisão: Jorge Watanabe
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Tem havido, por algum tempo, um mal-entendido considerável sobre como a Estrutura Integral AQAL vê a 2ª pessoa (por exemplo, “tu”, “você”). Eu não tenho ajudado nessa questão, porque embora já tenha explicado esse ponto, que é um tanto técnico, ocasionalmente eu mesmo utilizei  uma forma introdutória mais fácil e simples – mas tecnicamente não muito certa –  para descrever esse ponto. E ainda houve outra apresentação na Conferência de Teoria Integral deste ano que seguiu o mesmo mal-entendido (acompanhado de algumas outras imprecisões graves), pelo menos a meu ver, então pensei que já seria hora de abordar esse tema de forma completa.

A confusão origina-se exatamente no significado de “2ª pessoa” – porque existem dois significados muito diferentes que são constantemente confundidos. Há também uma grande confusão sobre o que precisa acontecer para um “você” realmente se tornar um verdadeiro “você”. A AQAL sem dúvida permite que todos esses significados sejam claramente diferenciados – mas é exatamente essa falta de diferenciação que causa os mal-entendidos (um mal-entendido que continua ocorrendo com praticamente todos os críticos da AQAL, com relação a este ponto).

Começarei abordando o primeiro significado dos pronomes de “1ª”, “2ª”, e “3ª” pessoa. Uma crítica ocasional da AQAL é que, ao enfatizar a perspectiva “nós” (que é a 1ª pessoa do plural e o Quadrante Inferior Esquerdo), a AQAL na verdade deixa de fora a perspectiva “tu” ou “você” de 2ª pessoa. Isso definitivamente não é verdadeiro, mas de maneiras que raramente são compreendidas. Para começar, temos o primeiro significado desses pronomes (perspectivas de “1ª,” “2ª,” e “3ª” pessoa). Este primeiro significado é tecnicamente correto, a saber: 1ª pessoa é a pessoa que fala (caso reto: “eu”; caso oblíquo: “me”, “mim”, “comigo”; possessivo singular: “meu” ou “minha”; plural: “nós”; possessivo plural: “nosso” ou “nossa”); 2ª pessoa é a pessoa com quem se fala (caso reto singular: “tu” ou “você”; caso oblíquo: “te”, “ti”, “contigo”; plural: “vós” [ou vocês]; possessivo singular: “teu” ou “tua”; possessivo plural: “teus” ou “tuas”); e a 3ª pessoa é a pessoa ou coisa de que se fala (caso reto: “ele” ou “ela”; caso oblíquo: “se”, “si”, “consigo”, “o”, “a”, “lhe”; plural: “eles” ou “elas”; possessivo singular: “seu” ou “sua”; possessivo plural: “seus” ou “suas”; caso reto e oblíquo no singular: “ele”, “ela”, “isto”; caso reto e oblíquo no plural: “eles”, “elas”, “istos”; possessivo no singular: “seu”, “sua”; possessivo no plural: “seus”, “suas”). Uma versão abreviada disso, como veremos, é simplesmente eu, nós, e isto.

Agora, o fato importante – e quase sempre esquecido – sobre essas definições desses pronomes é que eles não dizem absolutamente nada sobre o efetivo desenvolvimento interior. E o desenvolvimento interior é frequentemente descrito em pronomes semelhantes, mas que têm significados muito diferentes. Loevinger e Cook-Greuter (eu concordo com os dois e eu), por exemplo, descrevem os níveis de desenvolvimento em termos de sua capacidade de assumir perspectivas cada vez mais complexas. Portanto, a altitude vermelha pode assumir uma perspectiva de 1ª pessoa; a âmbar pode assumir uma perspectiva de 2ª pessoa; a laranja pode assumir uma perspectiva de 3ª pessoa; a verde pode assumir uma perspectiva de 4ª pessoa; a verde-azulada pode assumir uma perspectiva de 5ª pessoa; a turquesa pode assumir uma perspectiva de 6ª pessoa e assim por diante. Aqui, “1ª pessoa”, “2ª pessoa” e “3ª pessoa” têm significados bastante diferentes da primeira definição (e aqui, “4ª,” 5ª, “6ª”, etc. nem mesmo se enquadram na primeira definição). Neste uso, por exemplo, “3ª pessoa” significa não a pessoa sobre a qual se fala, mas a capacidade de assumir o ponto de vista de uma pessoa sob a perspectiva de outra – os pontos de vista de três pessoas podem ser mantidos simultaneamente em mente. A primeira definição de “3ª pessoa”, significa simplesmente a pessoa sobre a qual se fala – e essa pessoa poderia estar num nível de desenvolvimento de 1ª pessoa, ou de 2ª pessoa, ou num nível de 3ª pessoa, ou de 4ª pessoa, ou 5ª pessoa, 6ª pessoa e assim por diante. (Quando as pessoas simplesmente falam de uma metodologia de “3ª pessoa”, elas ignoram completamente o nível da pessoa que adota essa metodologia de “3ª pessoa” – com isso refiro-me, por exemplo, à metodologia de 3ª pessoa de alguém que está [no nível] vermelho, e que não pode nem mesmo assumir o papel do outro [na verdade, ela só pode ter uma perspectiva de 1ª pessoa. Portanto, essa pessoa pode afirmar que utiliza  uma metodologia de “3ª pessoa” quando de fato só pode adotar uma perspectiva de “1ª pessoa”]? Claramente não, mas tudo isso perde o sentido por não se perceber [e diferenciar] as realidades de ambas as definições – o que a AQAL faz totalmente.)

A primeira definição é apenas um tipo de definição “topográfica”, por assim dizer – simplesmente descreve a “localização” das pessoas que falam – sejam elas a pessoa que está falando ou a pessoa com quem se fala, ou a pessoa (ou coisa) sobre a qual se fala. Isso não diz nada sobre o interior dessas pessoas ou seus níveis de desenvolvimento. Quando alguém diz apenas,, arrogantemente: “Usaremos uma metodologia de 2ª pessoa”, geralmente supomos que querem dizer que os indivíduos que usam essa metodologia estão realmente nos níveis mais altos ou elevados de desenvolvimento interior (certamente não seria possível descobrir bons resultados se aqueles que utilizam metodologias de “2ª pessoa” estiverem apenas num nível âmbar de desenvolvimento de 2ª pessoa. Mas com uma metodologia de 2ª pessoa em que os indivíduos que a utilizam estão num nível de desenvolvimento de 5ª ou 6ª pessoa ou superior isso é possível. Muito será perdido se não mantivermos essas duas definições em mente). 

Além disso, muitas pessoas que usam os termos “metodologias de 1ª, 2ª e 3ª pessoa” não têm conhecimento de estudos sobre desenvolvimento e, portanto, nem mesmo percebem que cada uma dessas metodologias poderia ser usada por pessoas em um 3º, 4º, 5º, 6º, 7º, etc. nível de desenvolvimento – com resultados drasticamente diferentes. A AQAL cobre totalmente isso, fazendo com que os indivíduos que usam várias metodologias relatem sua própria altitude de desenvolvimento – por exemplo, “Estou usando uma metodologia de terceira pessoa a partir de um nível de 6ª pessoa” (cobrindo assim ambos os significados). Nesses casos, a AQAL está lidando com questões muito mais importantes do que seus críticos apontam.

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