Endereço Kósmico: tudo no seu lugar certo

O universo, nós entendemos, não é uma cacofonia aleatória de ruído e entropia. Não, o nosso universo é verdadeiramente um “uni-verso” – Uma Única Melodia – o que significa que tudo nele está de alguma forma interconectado e unificado com tudo o mais. Tudo se encaixa.

Mas como tudo se encaixa?

Aqui, Ken Wilber explora a noção de Endereço Kósmico – um “sistema de indexação” universal que usa o modelo Integral para situar e constelar todos os fenômenos conhecidos (físicos, mentais e espirituais), bem como a nossa capacidade de discernir esses fenômenos. Isso nos permite não só entender melhor a natureza de cada componente, mas também como essa parte se relaciona com qualquer outra parte e se encaixa no todo, revelando a arquitetura oculta do próprio conhecimento.

Nas palavras de Ken:

Um endereço Kósmico, como eu tenho observado, é a soma das dimensões AQAL de um/qualquer dado fenômeno. Vivemos em um universo que é, formalmente, sem um centro – é um universo onde qualquer coisa ou evento pode ser tomado como o centro do universo, e assim todo o resto relaciona-se com essa localização (do fenômeno). Mas “essa localização” não pode ela própria ser dada de forma única e fixa, uma vez que ela não está localizada em relação a qualquer centro fixo; o próprio fenômeno pode ser localizado apenas em relação à soma total de todos os outros fenômenos no universo. Portanto, seu “endereço” – seu “Endereço Kósmico” – apenas pode ser indicado ao fornecermos uma lista de suas relações relativas a outros fenômenos conhecidos. A Matriz AQAL faz exatamente isso.

Assim, um endereço Kósmico simples de um determinado estado emocional pode ser a sua existência no quadrante 1 (Superior Esquerdo), na linha de inteligência emocional, em uma altitude âmbar, num estado denso/grosseiro, num tipo 5 no Eneagrama, com emoções contaminadas do tipo 4. No universo conhecido, essas são informações suficientes para identificar a “localização” geral desse estado emocional particular – juntamente com suas principais qualidades e características. Ou, um caça a jato como um produto ou artefato social, que existe no quadrante 4 (Inferior Direito), na linha de defesa militar, em uma altitude verde-azulado, em um estado denso/grosseiro, um caça tipo F-16, de um tipo dos Estados Unidos. Deus como o Fundamento Amoroso (O Grande Tu) é  quadrante 2 (Inferior Esquerdo), altitude ultravioleta, linha bhakti [devocional], estado causal inicial, tipo Espírito-na-2ª-pessoa, tipo saguna. E assim por diante.

Saguna: uma divindade (Isvara) pessoal, causa material e direta do mundo e objeto de culto e de rituais – seria o Brahman como pessoa, segundo os Vedas. Um reflexo do absoluto através do véu da ignorância, o avidya, consequência da tentativa de conhecer a Verdade com uma mente sob a influência do Maya.

Esses três referentes são reais; eles existem em um real e particular espaço de mundo; e a localização, ou o endereço Kósmico, de cada um podem ser indicados em relação à soma total de outros referentes reais no Kosmos, o que a matriz de dimensões AQAL faz. Qualquer número de elementos de identificação “localizadores” pode ser dado; e os cinco elementos AQAL são um mínimo necessário. Além disso, o conhecedor ou experimentador de qualquer desses referentes também tem seu próprio endereço Kósmico específico, e isso também precisa ser indicado para uma imagem completa. (Alguém no nível de altitude âmbar que está tentando entender um fenômeno de um nível índigo não fará um trabalho muito adequado e pode traduzi-lo erroneamente, isso precisa ser levado em consideração em qualquer processo de conhecimento, e a “localização” de qualquer referente incluirá o referente e o endereço Kósmico do conhecedor).

O argumento é que todos os referentes reais – incluindo cães, raiz quadrada de um negativo e o Deus sem forma – existem em espaços de mundo específicos; eles têm endereços Kósmicos específicos. Eles não estão descansando em um mundo de planura pré-dado, esperando ser percebido por todos, mas os espaços de mundo específicos devem ser contatados (os Endereços Kósmicos particulares devem ser identificados e alcançados), para que você se aproxime o suficiente da vizinhança do referente para poder experimentá-lo diretamente. (Nem mesmo um cão está aberto a ser percebido por todos os seres – uma única célula, por exemplo, não pode ver o cachorro porque não pode chegar perto de seu endereço Kósmico, então o cão não existe para ela).

-Ken Wilber, The Religion of Tomorrow
https://integrallife.com/kosmic-address-everything-right-place/

O Bom, o Belo e o Verdadeiro

“Para entender o todo, é necessário entender as partes. Para entender as partes, é necessário entender o todo. Assim é o círculo do entendimento. Passamos da parte para o todo e vice-versa, e nessa dança de compreensão, nesse incrível círculo de entendimento, despertamos para o significado, para o valor e para a visão: o próprio círculo do entendimento nos guia, costurando os pedaços, curando as fissuras, reparando os fragmentos dilacerados e torturados, iluminando o caminho à frente – esse movimento extraordinário da parte para o todo e vice-versa, com a cura como marca da autenticidade de cada passo, e a graça como carinhosa recompensa”.

O Olho do Espírito, Ken Wilber


O que é o Bom, o Belo e o Verdadeiro?

O conceito do Bom, do Belo e do Verdadeiro remonta à antiguidade, encontrando suas primeiras expressões no Bhagavad Gita e nos ensinamentos de Platão, e mais tarde concebido por Aristóteles como três das propriedades transcendentes primárias do ser – propriedades que representam ambas as três categorias primárias de conhecimento, bem como as formas ideais dentro dessas categorias. Embora nossa compreensão dessas três dimensões irredutíveis tenha evoluído bastante ao longo dos milênios (já não as entendemos como formas platônicas perfeitas existentes em algum lugar fora do tempo, mas sim o produto natural das três perspectivas fundamentais que usamos para perceber a realidade), essa noção perene provou-se tão útil hoje quanto antes.

Como os três lados de um prisma, o Bom, o Belo e o Verdadeiro refletem a luz branca da consciência em todo o espectro da experiência humana:

Belo
Arte
Self
Estética
Primeira pessoa
Buda

Bom
Moral
Cultura
Ética
Segunda pessoa
Sangha

Verdade
Ciência
Natureza
Lógica
Terceira pessoa
Dharma

Ken Wilber freqüentemente se refere a essas dimensões irredutíveis da experiência como as “Três Grandes” do Eu, Nós e Isto:

  • Eu (Belo): Consciência, subjetividade, self e auto-expressão (incluindo arte e estética); honestidade, sinceridade.
  • Nós (Bom): Ética e moral, visões de mundo, contexto familiar, cultura; significado intersubjetivo, compreensão mútua, adequação, justiça.
  • Isto (Verdade): Ciência e tecnologia, natureza objetiva, formas empíricas (incluindo sistemas cerebrais e sociais); verdade proposicional (encaixe funcional e singular).

Uma Breve História do Bom, do Belo e do Verdadeiro:

A história das Três Grandes é o desdobramento do próprio conhecimento humano.

Nos tempos pré-modernos, essas três esferas de valor existiam em um estado de fusão indiferenciada – o Bom não era diferente do Verdadeiro, que não era diferente do Belo. Todos os três eram colapsados em uma única visão monológica, rigidamente controlada por um poder soberano particular (a Igreja, o Rei, etc.). Isso permitiu que cada esfera de valor dominasse e controlasse as outras. Galileu foi impedido de perseguir a ciência (o Verdadeiro) porque entrou em conflito com a moral religiosa mitica predominante da época (o Bom). Michelangelo teve que ter muito cuidado com os tipos de figuras que representava em sua arte, porque Arte e Moral ainda não eram diferenciados. Isto não era holismo ou integração; mas sim fusão indiferenciada.

Nos tempos modernos, começando em grande parte com o Renascimento, as esferas da Arte, da Moralidade e da Ciência começaram a ser devidamente diferenciadas. Libertadas do jugo do controle autoritário, cada esfera teve permissão para atuar sobre seus próprios domínios e seus próprios métodos para gerar conhecimento – e, como resultado, o conhecimento começou a florescer a uma taxa exponencial. Novas formas de expressão artística emergiram. Novos métodos de validação científica nos permitiram separar o fato objetivo da crença subjetiva, resultando no surgimento da física, da química e da biologia a partir do amálgama pré-diferenciado da alquimia hermética. Essas esferas de valor não apenas aceleravam sua própria aquisição de conhecimento, mas também exerciam uma pressão acelerada sobre as outras esferas – por exemplo, a diferenciação entre “Eu” e “Nós” permitia o surgimento de direitos e liberdades individuais que não podiam ser afetados ou banidos pelo Estado, pela Igreja, etc., que por sua vez resultou na proliferação de novas filosofias de bondade moral baseadas nesses novos princípios de igualitarismo e dignidade individual. Por serem devidamente diferenciadas, as três esferas de valor foram transformadas pela primeira vez em genuínos propulsores para o avanço do pensamento humano.

Mas o que acontece quando levamos a diferenciação longe demais? Simples: torna-se dissociação completa. Todo o nosso corpo de conhecimento se torna disfuncional, achatado e fragmentado. Os ciclos de retroalimentação criados entre as três esferas diferenciadas começam a se desintegrar, e todas as principais vias do conhecimento humano começaram a perder de vista as outras, ultrapassando sua competência e se reafirmando como a autoridade central de tudo o que é cognoscível. Divorciado de todas as noções de um contexto universal comum, um novo fundamentalismo começa a tomar forma – não o fundamentalismo bruto de uma autoridade central não diferenciada (toda floresta, nenhuma árvore), mas um fundamentalismo um pouco mais insidioso de núcleos dissociados e desconectados (todos árvores, sem floresta).

Essa é a condição pós-moderna em que muitos de nós mesmos agora nos encontramos, onde as muitas patologias da dissociação se espalham – incluindo todos os termos usuais de dez dólares como cientificismo, construtivismo cultural e relativismo, reducionismo sistêmico, infantilização estética, colapso epistêmico e “verdade” política.

Da fusão à diferenciação e dissociação – esta é a história do conhecimento humano até agora, a história da própria condição humana.

Integrando as Três Grandes

O que nos traz a hoje, no eminência de mais um monumental salto de compreensão. Um novo tipo de pensamento integrativo está começando a emergir das ruínas fumegantes do pós-modernismo, que busca reconhecer, honrar e incluir todos os numerosos ramos da arte, da moral e da ciência, reconhecendo-os como múltiplas facetas de uma única jóia viva. Este pensamento integrativo é guiado por três princípios gerais:

  • “Todo mundo está certo” (não-exclusão)
  • “Alguns estão mais certos que outros” (envolvimento)
  • “Se você quer saber isso, faça aquilo” (por em prática)

Note que, quando todos estes três princípios são postos em prática, surge uma questão muito simples, mas bastante profunda: “Como podemos descrever a realidade de tal maneira que todas essas perspectivas verificáveis ​​sobre a Verdade, a Bondade e a Beleza possam ser incluídas?

A Visão Integral é a nossa melhor resposta para essa pergunta – a nossa melhor esperança para superar a fragmentação dolorosa de nossas vidas e do mundo ao nosso redor, para diminuir as distâncias cada vez maiores entre nós e revelar o brilho da verdade em cada perspectiva.

Abrindo-se a esta nova onda integral de pensamento, conhecimento e ser, você é capaz de explorar mais completamente o enorme espectro de experiência disponíveis para você. E quanto mais você puder experimentar a realidade, mais liberdade e plenitude florescerão em sua vida. Integral é um meio pelo qual você pode ver – e sentir – que, de alguma forma, todos estão certos em suas várias interpretações da realidade. Ou, em outras palavras, “ninguém é inteligente o suficiente para estar errado o tempo todo”. A visão Integral baseia-se em todas as melhores ideias da história – do Oriente e do Ocidente, pré-moderna, moderna e além. Ela sintetiza todo o nosso conhecimento e sabedoria acumulada de tal forma que passamos a ver padrões muito reais emergir diante de nossos olhos, padrões que conectam todos os vários aspectos de nossas vidas, tecendo as muitas vertentes de nossas vidas em um todo profundamente significativo.

A Visão Integral ajuda a refinar e fortalecer nossa própria perspectiva de mundo, ao mesmo tempo em que nos abre para todas as perspectivas infinitas que nos cercam, para que possamos compartilhar plena e livremente a visão mais abrangente da realidade possível. Isso nos permite ser uma inegável força da Verdade, Bondade e Beleza no mundo, nos nossos relacionamentos e no nosso próprio atemporal coração.

escrito por Corey deVos
https://integrallife.com/good-true-beautiful/

Contemplação sobre a morte e impermanência

Terry Patten
21/06/2017

Terry Patten oferece uma pequena meditação guiada para ajudá-lo a reduzir o medo existencial, o pavor e a ansiedade em torno da morte, deslocando a sua atenção e identidade para a presença indestrutível no centro de seu ser.

“Se você morrer antes de morrer, então, quando morrer, não morrerá”.

Toda prática espiritual é um ensaio – e na melhor das hipóteses, uma promulgação – da morte. Como os místicos afirmam: “Se você morrer antes de morrer, então, quando você morrer, você não morrerá”. Em outras palavras, se agora morrer para a sensação de ser um eu separado, e descobrir, em vez disso, seu eu real que é um com Todo o Kosmos, então a morte deste corpo-mente particular será apenas uma folha que cai da eterna árvore que você é.

A meditação é praticar essa morte agora, e agora, e agora, descansando na Testemunha atemporal e desidentificando-se com o eu finito, objetivo e mortal o qual pode ser visto como um objeto. No vazio da Testemunha, no grande Não-Nascido, não há morte – não porque você viverá para sempre no tempo – você não irá – mas porque você primeiramente descobre a atemporalidade deste momento eterno, que nunca entra no fluxo do tempo. Quando você descansa no grande Não-Nascido, mantendo-se livre no vazio da Testemunha, a morte não altera nada do que é essencial.

Ainda assim, cada morte é triste, à sua maneira.

-Ken Wilber, One Taste
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